Níveis de antibióticos detectados nas água ultrapassam as quantidades consideradas aceitáveis, adverte estudo apresentado nesta segunda-feira (27)
"Uma equipe de pesquisadores da universidade de York, Inglaterra, analisou amostras tomadas em 711 locais de 72 países em cinco continentes, e detectou ao menos um dos 14 antibióticos rastreados em 65% de casos, informou a instituição acadêmica em um comunicado.
Os cientistas, que apresentaram os resultados de sua pesquisa nesta segunda-feira durante uma conferência em Helsinki, compararam estas amostras com os níveis considerados aceitáveis, estabelecidos pela associação da indústria farmacêutica AMR Industry Alliance, que variam segundo a substância.
Por exemplo, o metronidazol, utilizado para tratar infecções na pela e na boca, é o antibiótico que mais ultrapassa este nível aceitável, com concentrações de até 300 vezes este limite em um local em Bangladesh. Este nível também é superado no Tâmisa, que atravessa Londres.
A ciprofloxacina é a substância que ultrapassa com mais frequência o limite de segurança (detectada em 51 locais), enquanto a trimetoprima, utilizada para o tratamento de infecções urinárias, é a mais detectada.
"Até agora, o trabalho sobre os antibióticos (nos rios) foi realizado em sua maior parte na Europa, América do Norte e China. Com muita frequência sobre apenas um punhado de substâncias", apontou o doutor John Wilkinson.
Segundo este novo estudo, os níveis aceitáveis são ultrapassados com maior frequência na Ásia e África, mas os outros continentes tampouco estão salvos da contaminação, o que revela um "problema global", ressalta o comunicado, que detalha que os locais mais problemáticos ficam em Bangladesh, Quênia, Gana, Paquistão e Nigéria.
Descobertos na década de 1920, os antibióticos salvaram dezenas de milhões de vidas ao combater de forma eficaz doenças bacteriológicas, como pneumonia, tuberculose e meningite.
Mas ao longo das décadas as bactérias se modificaram e se tornaram resistentes a estes remédios, a tal ponto que a Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu que o mundo não contará no futuro com antibióticos eficazes.
As bactérias podem se tornar resistentes quando os pacientes consomem antibióticos que não precisam, ou quando não completam o tratamento indicado, o que permite a estas sobreviver e desenvolver uma imunidade às substâncias.
Mas os pesquisadores de York também destacam um vínculo com sua presença no Meio Ambiente.
"Os novos cientistas e dirigentes (políticos) começam a reconhecer o papel do Meio Ambiente no problema da resistência aos antibióticos. Nossos dados demonstram que a poluição dos rios poderia fazer uma contribuição importante", indicou outro dos autores do estudo, Alistair Boxall, mencionando resultados "preocupantes".
"Resolver este problema é um desafio monumental e necessitará um investimento em infraestruturas de gestão dos resíduos e das águas residuais, assim como regras mais rigorosas e uma limpeza dos locais já contaminados", acrescentou."
Fonte: G1
Levantamento é da Confederação Nacional da Indústria. Congresso analisa se torna lei MP que aumenta participação do setor privado no saneamento básico.
"Um setor que sofre com a falta de investimento é o de saneamento básico. No ritmo atual, cidadãos brasileiros vão esperar pelo menos mais 40 anos pra ter água tratada e coleta de esgoto.
Na imaginação, ela é uma rainha. Na vida real, uma criança ainda espera o mínimo para viver. Quando a gente cresce e a imaginação não é mais a mesma, esse mínimo é que vira um sonho. “Meu grande sonho é ter uma casa digna, um lugar da hora para morar, e as crianças se divertir e não morar aqui, num lugar desses”, conta a diarista Fabiana Tavares.
Na comunidade Vietnã, na Zona Sul de São Paulo, o esgoto vai todo para o córrego a céu aberto. Viver assim ninguém escolhe. “Acaba tendo problema de saúde, doenças, atrai bichos, rato, mosquito, alagamento que acontece bastante”, fala Jhones Rodrigues, líder comunitário.
Em saneamento básico, o Brasil tem um atraso de décadas para tirar. Mas o ritmo de investimento não está de acordo com essa necessidade. Do jeito que vai, muitas famílias só vão ter água tratada e coleta de esgoto nas futuras gerações.
Só na década de 2060. É o que mostra uma projeção feita pela CNI - a Confederação Nacional da Indústria. E olha que o Plano Nacional de Saneamento Básico estabelece o ano de 2033 como prazo.
Para cumprir essa meta de 2033, o investimento no Brasil precisaria ser de R$ 21 bilhões por ano, projeta a CNI. Mas ele não chega nem perto. E ainda está diminuindo sem parar desde 2014. A região Norte é a que menos tem água tratada e coleta de esgoto. E, também, a que menos investe em saneamento básico.
O Congresso Nacional está analisando se torna lei uma medida provisória para aumentar a participação do setor privado no saneamento básico. A CNI diz que essa medida daria mais segurança jurídica e faria mais empresas investirem.
“Hoje, a realidade que nós vivemos é que 9% da população é abastecida pelo setor privado. Hoje, o preço da tarifa é R$ 0,11 acima da tarifa pública média. E isso porque uma quantidade reduzida de atendimento numa qualidade bem superior ao do setor público muitas vezes não faz”, diz Mônica Messenberg, diretora de Relações Institucionais da CNI.
A cidade paulista de Limeira foi a primeira do país a conceder o saneamento básico a uma empresa privada. Hoje, quase 100% da população tem água tratada e esgoto.
Outra cidade do estado, Franca, é considerada a melhor do Brasil em saneamento básico. E lá a gestão é da Sabesp, que é uma empresa de economia mista: pública e privada.
“Nós estamos falando de mais de R$ 400 bilhões que o Brasil precisa para que todo mundo tenha água na torneira, esgoto coletado e tratado. O setor público sozinho não consegue, o setor privado sozinho não consegue. Precisamos de todos para que o brasileiro tenha dignidade e, no mínimo, uma água na torneira”, afirma Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil."
Fonte: G1
“Mesmo com o rio todo poluído a gente ainda conseguia pegar peixe e encher uns dois baldes de camarão todo dia até ano retrasado, mas agora só ver morto. E quando tem vivo é bem pouco. Não enche nem um balde. Tem que passar a semana toda juntando para vender no sábado”. O relato é do pescador Geovando Dionísio, 50 anos, que vive da pesca do Rio Gramame desde sua infância. Há pouco mais de um ano e um mês, 40 mil litros de soda cáustica da estação de tratamento da Companhia de Água e Esgoto da Paraíba (Cagepa) vazaram no rio, trazendo sérios danos ao meio ambiente. No entanto, este não é o único rio poluído na Região Metropolitana de João Pessoa. Mais da metade do total de 20 rios estão em péssimas condições. Nesta sexta-feira (22), no Dia Mundial da Água, não há o que se comemorar. No entanto, para especialistas há uma luz no fim do túnel, pois ainda é possível recuperar alguns rios, caso os poderes públicos tomem providências.
O Rio Gramame, responsável pelo abastecimento de 70% dos municípios da Região Metropolitana de João Pessoa, sofre há anos com a poluição, principalmente dos dejetos lançados pelas indústrias e esgotos domésticos. Os pescadores e moradores das áreas ribeirinhas lutam para combater a poluição que ocorre há anos.
Quando criança, Nelcinalva Eloi, hoje com 43 anos de idade, pescava com a mãe. Ela conhece de perto as mudanças ocorridas no Gramame. “Hoje eu sou uma pescadora habilitada e gosto do que faço. Tive que parar há uns dois meses por conta da minha saúde e também por conta do Seguro Defeso, mas muita coisa mudou, principalmente depois do ano passado”, comentou, lembrando do derrame de soda cáustica ocorrido em fevereiro de 2018.
Assim como Nelcinalva Eloi, que mora na comunidade de Mituaçú, no município do Conde, no Litoral do Sul, o pescador Geovando Dionísio, que também vive da pesca do Rio Gramame, lamenta a contaminação do rio ao longo dos anos. “A gente fica triste quando vê essa situação”, contou.
Mesmo com o Rio Gramame poluído, pescadores ainda recorrem ao local para pescar e moradores, principalmente crianças, também aproveitam a água para o banho, sem receios.
Os pescadores reforçam que a situação se agravou após o derrame da soda cáustica. “Quando a gente acordou sentiu um mau cheiro forte, quando foi ver no rio eram peixes mortos”, lembrou do ocorrido Nelcinalva Eloi.
Espécies desapareceram
O coordenador da campanha “O Rio Gramame quer viver em águas limpas” e gestor de Meio Ambiente da Escola Viva o Olho do Tempo (Evot), ONG que atende 130 crianças da área de Gramame, Ivanildo Santana, destacou que após o derrame de soda cáustica muitos pescadores abandonaram o rio onde pescavam, pois muitas espécies morreram em virtude da contaminação. Alguns deles recorreram a outras áreas como o Rio Jacoca, no Conde, para a pesca. Ele lembrou que no Gramame a quantidade de camarão era alta e hoje o volume é bem menor.
“Muitas espécies morreram e eles tiveram que recorrer para outras áreas para sobreviver”, afirmou, destacando que na época que ocorreu o derrame foi feita uma análise da qualidade da água por especialistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e constatou baixo nível de oxigenação.
“A ponto de, naquela área onde a soda atingiu, não ter sobrevivência de nenhuma espécie. Ficou zerado. Só as bactérias poderiam sobreviver naquele local por onde passou a soda. Assim que ela cai no rio se transforma em uma bolha e essa bolha vai andar até se diluir na água. No caminho percorrido por essa bolha foi uma destruição muito grande. Nós passamos cinco dias coletando peixes mortos na margem do rio. Os pescadores passaram cinco dias sem pescar, apesar de ser um rio contaminado, as pessoas tinham esse hábito de pescar, inclusive pessoas que geravam rendas para suas famílias como complemento. Depois do acidente não se houve mais. Zerou. Depois disso foi se recuperando porque o rio tem uma fluidez muito grande e relativamente boa”, comentou.
Como a luta para a preservação do Gramame existe há anos, o coordenador da Campanha e gestor do Meio Ambiente, informou que já foram firmados dois Termos de Ajustamentos de Conduta (TACs), há um inquérito civil público tramitando no Ministério Público Federal (MPF) e também uma ação do MPF com o Ministério Público da Paraíba (MPPB) que repassou recomendações, em janeiro deste ano, para que as empresas que lançam contaminantes no rio elaborem um plano de preservação das nascentes a fim de cuidar do local.
"Existe uma série de agentes que poluem o rio e não é só isso isolado. Existe uma cadeia de poluentes que impacta de forma muito grave em toda a bacia do Gramame. Nós somos uma ONG que atende 130 crianças e elas fazem oficinas, dentre essas a de educação ambiental. Então, elas são agentes e guardiãs desse rio. Nós temos esse cuidado de conversar com as crianças porque esse rio é importante para a cidade e nós" falou Ivanildo Santana, Coordenador da campanha e gestor da Evot.
Recuperação é possível
Embora a cidade de João Pessoa seja ‘abençoada’ pela presença de vários rios, riachos e córregos, segundo o professor do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Gilson Moura, não houve um planejamento quanto a ocupação do seu entorno.
Ao longo dos últimos 30 anos não houve uma fiscalização eficaz por parte dos poderes públicos em relação as ocupações de forma desordenada, o que contribuiu para que resíduos domésticos e dejetos das moradias tivessem como destino os rios de forma clandestina. Muitas vezes são da comunidade, que sem condições de fazer fossas, ou quando fazem também não resolve porque fica perto do rio.
Gilson Moura destacou também os vazamentos constantes da Cagepa e o lançamento proposital do órgão diariamente no Rio Jaguaribe, a partir da subestação elevatória na Avenida Beira-Rio, que fica na comunidade Padre Hildon Bandeira. Tudo isso, segundo o professor, contribui para tornar o Jaguaribe, que passa por vários bairros da Capital, contaminado.
Para o professor Gilson Moura ainda é possível recuperar os rios da Região Metropolitana de João Pessoa, mas para isso é necessário que o poder público tome providências como a retirada dos lançamentos de esgotos, proibição efetiva do despejo de resíduos domésticos e ocupação das áreas ribeirinhas. Ele lembrou que nos rios Timbó e Mandacaru ainda têm a presença de resquícios de mata ciliar – aquela vegetação que fica no entorno e que protege as áreas fluviais – o que possibilita a recuperação. “No Rio Mandacaru, no trecho que fica por trás da Promac, em tempos de estiagem corre água da galeria pluvial, que não é da chuva, é de esgoto clandestino que cai na galeria pluvial. O que mais intriga é que fica em um bairro de classe média, média-alta. Então isso não justifica. Falta é um empenho por parte de gestores públicos em pegar pesado com essas pessoas que jogam os esgotos na rede pluvial, a Cagepa fazer a parte dela, a Sudema e a Semam fazerem a parte de recuperação”, denunciou.
Ele disse que é possível recuperar os rios, caso os poderes públicos montem um planejamento, junto com estudiosos, pesquisadores das universidades e institutos federais e apontem soluções para o problema.
"Tanto a nascente do Rio Mandacaru quanto a nascente do Rio Timbó ainda estão em condições de recuperar", Gilson Moura , professor da UFPB.
Fonte: Correio da Paraíba
Vale diz que vai retirar a lama das áreas afetadas e faz obras de recuperação ambiental que transformaram a cidade em um grande canteiro de obras
"Após quatro meses da tragédia do rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, da Vale, no distrito de mesmo nome em Brumadinho (MG), boa parte da cidade se tornou um verdadeiro canteiro de obras.
A maioria dos hotéis estão lotados, mas não de turistas – que representam a segunda atividade econômica mais importante da cidade depois da mineração – e sim de trabalhadores de empresas prestadoras de serviços para a Vale.
“Hoje meu hotel está lotado, a maioria são prestadores de serviços e bombeiros que ainda atuam nas buscas na cidade", afirmou Elaine de Castro, proprietária de um hotel na cidade.
A Vale se comprometeu a remover todo o rejeito de minério que se espalhou em em uma área com cerca de 10 km que atravessa alguns distritos da cidade. Além de tratar a água e devolve-la limpa ao rio Paraopeba.
Para fazer este trabalho, que deve durar ao menos dois anos, o número de empreiteiras contratadas pela mineradora aumentou, trazendo milhares de trabalhadores.
Não há um número preciso, mas duas empreiteiras consultadas pelo R7, afirmaram ter mais de mil pessoas trabalhando na região. Entretanto, o setor de construção civil e de extração mineral acumulam um saldo de mais de 12 mil vagas criadas em Minas Gerais este ano.
Só para ter uma ideia, a Vale tinha pouco mais de 2.000 funcionários trabalhando na cidade quando estava com todas as suas minas em operação na região.
A dona de um dos cinco pequenos restaurantes do Córrego de Feijão, por exemplo, afirmou faturar mais de R$ 30 mil com refeições servidas para trabalhadores das empresas que estão atuando ali."
Fonte: R7
Oito antecessores de Ricardo Salles acusam o atual Governo de promover uma "política sistemática, constante e deliberada de destruição das políticas meio ambientais"
Todos os ex-ministros do meio ambiente vivos desde que a pasta foi criada, em 1992, assinaram um comunicado conjunto e se reuniram nesta quarta-feira em São Paulo para lançar um alerta para a sociedade brasileira. E para o mundo. Rubens Ricupero, Gustavo Krause, José Sarney Filho, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc, Izabella Teixeira e Edson Duarte acusaram o Governo do ultradireitista Jair Bolsonaro (PSL) de colocar em prática em pouco mais de quatro meses uma "política sistemática, constante e deliberada de desconstrução e destruição das políticas meio ambientais" implementadas desde o início dos anos de 1990, além do desmantelamento institucional dos organismos de proteção e fiscalizadores, com o Ibama e o ICMbio. A imagem de unidade que ofereceram por cima de suas diferenças ideológicas, incluindo a que foi prejudicada e o que foi beneficiado pelo dramático impeachment de Dilma Rousseff, dá uma ideia da gravidade de sua denúncia.
O grupo acusa o presidente e o atual ocupante da pasta, Ricardo Salles (NOVO), de estarem revertendo todos as conquistas das últimas décadas. Conquistas que "não são de um governo ou de um partido, mas de todo o povo brasileiro", segundo destacou mais de uma vez Marina Silva, que ocupou o Ministério entre 2003 e 2008, além de ter sido candidata a presidência da República nas últimas três eleições. Silva e seus seis colegas que compareceram à reunião desta quarta (Gustavo Krause não pôde estar presente) destacaram que, ao contrário do que prega Bolsonaro, a defesa da natureza, da biodiversidade e o combate às mudanças climáticas não são incompatíveis com o desenvolvimento econômico. Todo o contrário. Silva afirmou que o Brasil "depende do meio ambiente para ser a potência agrícola e mineradora que é", destacando que o país crescia uma média de 3% e impulsionava o agronegócio ao mesmo tempo que reduzia em 80% o desmatamento da Amazônia.
O atual ministro Ricardo Salles lançou uma nota rebatendo seus colegas. "O atual governo não rechaçou, nem desconstruiu, nenhum compromisso previamente assumido e que tenha tangibilidade, vantagem e concretude para a sociedade brasileira", destacou. "Mais do que isso, criou e vem se dedicando a uma inédita agenda de qualidade ambiental urbana, até então totalmente negligenciada".
Esforço "destrutivo"
Os antigos ministros deixaram claro que o panorama atual é desolador. Todos fizeram questão de sublinhar que, apesar de diferenças ideológicas, cada um deles manteve o legado de seus antecessor e o rumo das políticas ambientais ao mesmo tempo que trabalhava em novas políticas e diretrizes para preservar a riqueza ecológica brasileira. Rubens Ricupero, ministro do Governo Itamar Franco entre 1993 e 1994, descreveu que o atual governo faz um esforço "malévolo e destrutivo contra algo que o Brasil construiu com tanto esforço".
As medidas "retrógradas" tomadas pelo Governo Bolsonaro neste assunto são muitas e diversas: transferir para o Ministério da Agricultura a demarcação de terras indígenas e o Serviço Florestal Brasileiro, a perda da Agência Nacional de Águas para o Ministério de Desenvolvimento Regional, a extinção da Secretaria de Mudança Climática, o assédio aos fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), responsáveis por aplicar multas ambientais para poluidores e desmatadores, além das ameaças de desmantelar áreas protegidas, reduzir o Conselho Nacional do Meio Ambiente eliminar o Instituto Chico Mendes (ICMbio). Além disso, o governo Bolsonaro passou a indicar militares e policiais militares para os cargos de chefia do IBAMA e do ICMbio com a desculpa de que podem conferir um maior poder de política para os organismos. "Nada contra eles, mas são pessoas que não possuem a agenda ambiental", disse Izabella Teixeira (2010-2016). Tudo isso compromete, segundo o documento assinado, o papel de protagonista exercido globalmente pelo país e indica retrocessos nos esforços realizados para reduzir as emissões de gás carbônico.
Sem uma mudança de rumo, advertiu Silva, "vão transformar nosso em país em um exterminador do futuro. Isso não podemos permitir". Já Ricupero incentivou que os jovens ocupem ruas e praças, como vem acontecendo na Europa e nos Estados Unidos, para pressionar o Governo contra o desmantelamento das políticas ambientais. Teixeira afirmou, por sua vez, que "o Brasil não pode ser a rainha má do Game of Thrones do meio ambiente". As consequências das ações e inações do atual mandatário "serão dramáticas e irreversíveis" para a ecologia, a economia e a sociedade, afirmou Silva. Os mais jovens são os que irão sofrer de maneira mais intensa.
Os ex-ministros explicaram que este "não é um ponto de chegada, mas sim um ponto de partida". Querem aproveitar a crescente sensibilização planetária com a crise climática e as greves de adolescentes na Europa para estabelecer um diálogo com a sociedade civil que estabeleça uma frente contra essas políticas regressivas. E dizer basta.
Silva apelou para a cidadania que, recordou, deu a vitória a um candidato que prometeu durante a campanha eleitoral acabar com a gestão ambiental. "Agora é o povo brasileiro que tem que avaliar se quer um país sem suas florestas". Os ministros incluíram o Governo Bolsonaro em seus constantes apelos ao diálogo e a unidade diante de um tema crucial para o futuro.
Bolsonaro anunciou na campanha que eliminaria o Ministério do Meio Ambiente e prometeu que, assim como Donald Trump, tiraria o país do Acordo de Paris contra as mudanças climáticas. O ultraconservador finalmente não cumpriu com as duas promessas. Contudo, com suas decisões posteriores, conseguiu esvaziar o Ministério: nomeou Ricardo Salles, "um ministro anti-meio ambiente", debilitou notavelmente os sistemas de proteção florestal dos povos indígenas, essenciais na preservação da biodiversidade. Como se fosse pouco, em palavras de Carlos Minc (2008-2010), "colocou uma pistola na mão dos agressores, poluidores e desmatadores, enquanto que os defensores do meio ambiente tiveram suas mãos atadas".
Minc também advertiu que o atual Governo "está autorizando diariamente novos agrotóxicos cancerígenos que já estão proibidos nos Estados Unidos e na Europa". E que podem, além de tudo, acabar com as abelhas, "essenciais para manter a biodiversidade". Outro exemplo dado foi o arquipélago de Abrolhos, uma área de mais de 900 quilômetros quadrados próxima do Estado da Bahia que é protegida, o que permitiu que as baleias Jubarte pudessem sair da lista de animais em perigo de extinção. Porém, o Governo quer liberar a extração de Petróleo na região.
Os ex-ministros também garantiram que irão manter diálogo com instituições e organismos internacionais e que, se necessário, poderão acionar a Justiça para tentar impedir algumas ações do Governo. Advertiram também que as consequências para o Brasil no campo internacional podem ser graves: vão desde a perda de credibilidade e de poder de articulação até o fechamento de mercados para os produtos brasileiros. Algo que já começa a acontecer: recentemente, Salles cancelou um giro pela Europa devido às críticas dirigidas ao Brasil por causa da atual gestão ambiental.
Fonte: El País